Belém do Solimões: maior ALDEIA INDÍGENA do BRASIL

Belém do Solimões EWARE Capuchinhos
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Belém do Solimões – aonde nós Frades Menores Capuchinhos, com a Fraternidade São Francisco de Assis, moramos no CONVENTO e CASA PAROQUIAL (Rua Amazonas n. 04, Bairro Redenção) – é hoje a MAIOR ALDEIA INDÍGENA do BRASIL alcançando uma POPULAÇÃO Geral de 11.000 moradores indígenas (Ticuna e uma pequena parte Kokama).

Hoje tem energia elétrica graças a uma nova USINA ELETRICA construída pela BBF com biocombustível.

Hoje também tem duas Escola Municipais (Ngetchutchu ya Mecü e Eware Mowatcha e uma Escola Estadual.

Hoje Belém é muito extensa e está organizada e distribuída em 11 Bairros cada um com Presidente de Bairro além do Cacique Geral, atualmente Alexandre Correa.

Hoje Belém do Solimões é SEDE da Paróquia São Francisco de Assis e recentemente das duas importantes Associações Indígenas, MAPANA e ADACAIBS. Hoje Belém se tornou um Centro Cultural de referencia da Região, pelas atividades sociais, culturais e religiosas desenvolvidas pela Paróquia Indígena São Francisco de Assis, pela MAPANA e pela ADACAIBS, reunindo frequentemente as comunidades indígenas de todas as 03 Terras Indígenas Demarcadas (EWARE I, EWARE II e FEIJOAL) aonde a aldeia de Belém está estrategicamente situada no centro. Veja estes MAPAS para visualizar e compreender melhor.

Para compreender a relevância da aldeia de Belém do Solimões, importante saber que na região do Alto Solimões o povo MAGÜTA (Etnia Ticuna) já alcançou 74.174 mil habitantes. Somando com os habitantes na Colômbia  (9.608 mil) e no Peru (11.098 mil), a POPULAÇÂO GERAL do POVO TICUNA já alcança 94. 883 mil habitantes, pelo levantamento de 2023.

Nós Frades Menores Capuchinhos, ao longo dos anos, desde 2006 até 2015, registramos testemunhos de anciões e anciães e informações de Documentos Históricos (dos quais, muito hoje já estão publicados no LIVRO “A Igreja sobre o rio: a missão dos capuchinhos da úmbria no Amazonas“, Autor Mario, Local: Roma; Manaus Editora: Secretaria de Estado de Cultura Ano: 2012) para elaborar este BREVE HISTÓRICO de Belém do Solimões e colocá-lo a disposição principalmente dos alunos e professores indígenas toda vez que precisarem para suas pesquisas e estudos. Vejam…

HISTÓRIA de BELÉM DO SOLIMÕES (1870 – 2015)

Em 1870 foi fundada no Alto Solimões a missão do Caldeirão, na atual Belém do Solimões, sob a responsabilidade dos missionários franciscanos italianos. A missão durou nove anos (1870 até 1879) em modo muito próspero. A missão contava em 1874: 1 igreja, 22 casas e 176 habitantes.

Belém do Solimões, na beira esquerda do rio Solimões a metade da viajem entre São Paulo de Olivença e Benjamim Constant, 62 km a ocidente de São Paulo de Olivença, é lugar onde os Frades Menores italianos, nos anos 1870-1879 instituirão a catequese do Caldeirão. O responsável dos frades menores franciscanos que começou a missão era frei Ângelo Fratteggiani.

Em 1889 a grande área de Belém do Solimões e das redondezas tornou-se propriedade do senhor Manoel Mafra.

O proprietário, Manoel Mafra, veio em 1876 do Perú e trouxe consigo as seguintes pessoas: os seus irmãos Romualdo, Mariquinha e Maria do Carmo Mafra; Cipriano e Gabriel Tenazor com a esposa de Cipriano, Espírita Gonçalo Paiva e Higino Pinto (que foi gerente em Belém e faleceu em 1930. O seu tumulo encontra-se ainda hoje no antigo cemitério de Belém); e Manoel do Carmo, Luiz Guedes dos Santos, Loreto Yaco, Roberto Periquito Isidorio que eram Ticuna que vieram de Cajarú e Loreto Yaco. Tinham também Felipe Polosina e Paulo Ipuxima. Os quatro irmãos Mafra eram solteiros e vieram do Peru com três navios chamados de Mafra, Netuno e Lauro Sodre.

Mais tarde chegaram também Cazimiro Pará, Geronimo Cardeiro, Bonaventura Jumbato, Rumualdo Tananata e Antônio Curicu.

Na primeira viajem Manoel Mafra vai até Manaus e trabalha no rio Negro até o ano de 1888, quando sobe novamente o Solimões até o rio Jutaí abrindo um seringal. Em seguida prossegue para Nova Inês (hoje é São Domingos, próximo de Vendaval) e abre outro seringal. Em seguida quem fica responsável pelos seringais do igarapé São Jerônimo é Querino Mafra. Em 1869 abre o seringal e um comércio no acampamento que ele mesmo chama de Vendaval por causa de um forte vento que quase derruba o seu navio. Em 1870 Manoel volta para o Peru para conseguir mais recursos e trabalhadores e volta somente no ano 1870, com mais 30 Ticuna, 15 homens e 15 mulheres. Uns deles são os seguintes: Leunel Tatu, Eduardo Pimenta, Luiz Baié, dona Curuba, Luiz Guedes, Manoel do Carmo, Manoel Sucurijú, Paulo Tacana.

Quando todas as estradas dos seringais estão prontas (Belém, Vendaval, Assacaia, Tacana, Ourique, Tawarú, Vera Cruz e igarapé de Belém), o sr. Manoel organiza os seringueiros (vários eram nordestinos) e cada qual constrói o seu tapirí para trabalhar. Os Ticuna são ao invés encarregados da pesca do peixe boi, do pirarucu e das tartarugas tracajá, para fazer “mixira” para enviar em Manaus.

Os navios que levavam o material para Manaus eram Envira, Augusto Monte Negro, S. Pedro e Alegria. Santa Cruz é o nome do primeiro lugar onde atracaram estes navios.

Foi construída também uma igreja dedicada a S. Francisco de Assis em que foram levadas três imagens de madeira vindas do Forte (quartel militar) de Tabatinga chamado “São Francisco Xavier”, que estava caindo pelo barranco. As três imagens, são de São Pedro Apostolo, São Francisco Xavier e São Francisco de Assis que foram trazidas da Espanha provavelmente pelo famoso Padre Samuel Frits que fundou o Forte de Tabatinga.

Alguém conta que a imagem de São Francisco de Assis com 06 sinos foi o próprio senhor Manoel Mafra que trouxe em 1870 de uma viajem na Itália, mas no sino tem a data de 1897 de PORTO. Foi construída também uma casinha para os missionários.

De 1876 até 1927 o proprietário tentou aproveitar da melhor forma dos produtos agrícolas da terra, da extração da borracha, de pequenos engenhos industriais, comercializando tudo. Tinha um engenho onde fabricava cachaça, açúcar e rapadura; uma maquina para debulhar milho; uma piladeira para depilar arroz e uma fazenda com 5000 cabeças de gado. Na fazenda tinha 200 funcionários Ticuna (1) e civilizados. Comercializava também couro de jacaré preto, pele de onça e gato maracajá, queixada, etc.

(1 – Nas décadas de 20 e 30 o lote de terras denominado “Belém” do “patrão” Romualdo Mafra, produzia borracha, açúcar e cachaça. Para a produção do açúcar e da cachaça, a propriedade dispunha de canaviais de extensão regular, e de uma usina e alambique. Segundo o antropólogo alemão Nimuendajú (1982), no tempo do “finado” Romualdo Mafra os índios que trabalhavam em sua propriedade recebiam cachaça à vontade, o que resultava em frequentes “desordens sangrentas” tanto no barracão como nas comunidades de dentro do igarapé. Comparando os Ticuna de Belém com os índios do Igarapé Preto, onde a cachaça era mais rara, Nimuendajú classifica os primeiros de “fracos, menos sadios e degenerados”.)

Em 1878 funcionou a primeira escola numa grande casa chamada Republica, onde todos e os seringueiros reuniam-se nos dias de festejo e a professora era a filha do proprietário, Maria Amaral. Os alunos que não tinham condição de pagar a professora e o material didático eram excluídos.

Em 1877 Manoel Mafra viaja com a sua esposa para o Pará e quando volta já é casado com dona Benigna (Nazaré do Amaral). Eles, porém, não podiam ter filhos e por isso pensaram de chamar o acampamento do Caldeirão de Belém, como própria herdeira e lembrança. O dia que deram o nome de Belém do Solimões a cidade, fizeram uma grande festa, mataram muitos bois. Do Pará eles trouxeram muitas plantas como o açaí do Pará e outras lindas palmeiras.

Em 1927 vendeu Belém para o seu irmão Romualdo Mafra. Romualdo faleceu em 1935 e ficaram três herdeiros (filhos de Manoel com uma outra mulher): Yaia, Maria e João Amaral. Dona Yaia, porém, arredou Belém e todas as suas propriedades (no total eram 8) para o seu primo Antônio Roberto Ares de Almeida de 1944 até 1960.

Antônio funciona o engenho para fazer cachaça, açúcar e rapadura e depois o leva para Palmares, onde constrói e funciona uma escola cuja professora é sua filha Jandira Almeida. Em 1961 ele faleceu em Manaus e em 1962 os herdeiros foram no cartório em S. Paulo de Olivença. Proprietário de Belém ficou, então, Jordão Almeida de 1965 até 1971.

Com a crise econômica da borracha todas as atividades da família Mafra e a cidade inteira começaram passar por graves dificuldades, e em 1934 a igreja e a casa dos missionários são desmanchadas por causa da queda do barranco e em 1935 começa-se a construção de uma Nova Igreja. A antiga cidade de Belém do Solimões, (localizada no antigo cemitério do Caldeirão) foi destruída totalmente.

Um dos primeiros capuchinhos que passaram em Belém foi frei Giulio da Nova que aos 07 de maio de 1910 faleceu por malária com somente 26 anos de idade. Foi sepultado na própria Belém na tumba da família Mafra.

Os capuchinhos que visitavam Belém e as comunidades Ticuna ainda não encontravam uma solução para a catequese por causa da língua, da difícil colocação das comunidades, o nomadismo excessivo e pelo fato de muitos patrões não permitirem e gostarem da ida do missionário.

Em 1930 sob pedido do Marechal Rondon, o governador do Amazonas fez construir uma escola pública em Belém que funcionou per breve tempo.

Quando chegaram os capuchinhos, a família Mafra colocou tudo a disposição deles e em 1936, sob a direção do frei Fidelis de Alviano, em um terreno comprado com os familiares do falecido Romualdo Mafra, constrói-se uma Igreja, colégio e casa do missionário. Tudo é pronto no ano 1937, porém, infelizmente, o Colégio foi inútil, pois não se encontrava ninguém que o frequentasse e mais tarde foi desmanchado.

Quando a família Mafra se transferiu para Tonantins, levou consigo também os restos mortais de frei Giulio da Nova.

Em 1960 foi construída pelo senhor Jordão Almeida uma escola particular onde os pais pagavam os professores pelas disciplinas que davam aos seus filhos. Os professores eram Martinha Guedes Tenazor, Floriano Bentes e Orlandina Siqueira.

Em 1971 o senhor Jordão Almeida distribuiu lotes de terra para cada família Ticuna que chegava das comunidades, para ajudar frei Arsênio no trabalho com os Ticuna, que seria facilitado juntando-os em uma comunidade maior. Formou-se desta forma a estrutura da atual Belém do Solimões. Foi o próprio Jordão que dividiu as ruas e deu os nomes a cada uma: rua S. Francisco, Amazonas, Monsenhor Evangelista, Romualdo Mafra, Antônio Roberto, Dinair.

Em 1969 depois de dois anos de presença de frei Jeremias, chega da Itália frei Arsênio Sampalmieri. Em 1971 Dom Adalberto Marzi erige a Paróquia de Belém do Solimões e nomeia como 1º Pároco frei Arsênio Sampalmieri.

Em 1969 frei Arsênio, ajudado pelos Ticuna e com o apoio do senhor Valmir Torres Barros, constrói uma grande escola em madeira de dois andares, reforma a Igreja (1970) e constrói uma casa em 1975 para duas professoras (que hoje é a antiga Casa Paroquial) enviadas e sustentadas pelo bispo Dom Adalberto Marzi de S. Paulo de Olivença. As professoras eram Dinair Mateus Damaceno, Maria Reis e Assunta Vieira da Costa. A comunidade de Belém contava então com 500 pessoas.

Em 1973 foi construída a Escola São Francisco de Assis pelo prefeito de S. Paulo de Olivença, José Cruz da Silva.

Frei Arsênio morou por 25 anos em Belém e construiu escola, marcenaria, oficina mecânica, alojamento para as professoras e um pequeno Polo da saúde onde ele mesmo atendia os doentes quando era ausente o encarregado do FUNAI.

Em 22 de junho de 1972 foi implantada a Irmandade da Santa Cruz pelo pastor José Francisco da Cruz.

Em 1974 foi construído o Posto da Saúde pelo SESP através da administração do prefeito José Cruz da Silva de S. Paulo de Olivença.

Em 1975 o professor Samuel, abriu o novo cemitério, enterrando a sua esposa. O antigo cemitério ficou muito longe da comunidade e o novo facilitou a comunidade.

Em 1981 foi construído o Posto do FUNAI (2) pela administração do senhor Sidnei de Atalaia com o senhor Valmir Torres Barros.

(2 – Em 1967 foi extinto o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), e criou-se em seu lugar a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Até 1946 havia somente um Posto Indígena, na comunidade de Umariaçú. Em 1975 foi instalado um segundo Posto em Vendaval e, logo em seguida, outros em Nova Itália (1976), Campo Alegre (1977), Feijoal (1978), Betânia (1979) e Belém do Solimões (1981).)

Em 1987 foi construída uma Usina da CEAM pelo senhor Governador Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo, pelo Senhor Prefeito de Tabatinga Oscar Gomes da Silva pelo intermédio do pároco frei Arsênio.

Em 1992 foi construída a Escola Municipal Eware Mowatcha pela administração do prefeito Joel Santos de Lima, em 1995 foi reformada pelo prefeito Francisco Rodrigues Balieiro e em 2008 foi novamente reformada pelo prefeito Joel Santos de Lima.

Em 1998 foi implantada a Igreja Pedrangular pelo pastor Isaltino Fonseca de Souza.

A COSAMA e a TELEMAR foram implantadas no ano 2001.

Em 2001 foi implantada a igreja Assembleia de Deus pelo pastor Alan.

Foi criado o Distrito indígena de Belém do Solimões sem plebiscito pelo decreto n°. 041 de 13 de abril de 1990, artigo 75 da Lei orgânica Municipal.

Em 1992 frei Arsênio deixou a paróquia de Belém do Solimões e voltou definitivamente para sua terra natal, a Itália, na região da Úmbria, aonde morreu em….

A Paróquia ficou sem pároco por longos 15 anos consecutivos e sofreu bastante esta situação de instabilidade pastoral. Com intervalos – às vezes de anos – passaram por Belém diversos missionários: frei Celso Caldas e a missionaria Felicidade, pe. Joseney Lima, o Diácono Nelson Ney, fr. Salvador. Mas entre um e o outro passaram uns anos sem a presença estável de um Pároco.

Somente em 2006, em novembro, os capuchinhos voltam estavelmente a morar em Belém com uma fraternidade. Fr. Arsênio morou sempre sozinho, sem uma fraternidade, a não ser por uns cinco anos, quando fr. Humiles o ajudou, inclusive ensinando educação física no Colégio São Francisco.

A primeira FRATERNIDADE ESTÁVEL, como consta no LIVRO de TOMBO da FRATERNIDADE e PARÓQUIA, foi oficialmente aberta no dia 03 de dezembro de 2006, com o Guardião e Pároco Fr. Paolo Maria Braghini, Fr. Gino Alberati e fr. Paulo Silva. Fr. Gino foi logo transferido para Benjamim Constant como mestre dos Noviços e assim a fraternidade, até 2010, foi formada por Fr. Wilton Weiga o postulante Afrânio.

No dia 13 de abril de 2015, muitos indígenas choraram de emoção quando os Freis comunicaram no alto falante (Boca de Ferro) da Igreja do falecimento do Fr. Arsênio (na Itália) e muitos indígenas foram rezar na Igreja para ele acendendo velas na frente de uma foto que os freis tinham prontamente colocado. Assim está registrado no Necrológio dos Frades Menores Capuchinhos da Custodia do Amazonas e Roraima.

“- Perúgia (Enfermaria Provincial). Fr. Arsênio (Domenico) Sampalmieri de Rivodutri (RI), sacerdote. Religioso perspicaz e genuíno, de grande força física e interior, dotado de refinada inteligência e grande senso prático. Tão logo ordenado presbítero, dirigiu-se à nossa missão do Alto Solimões (Brasil), onde passou trinta anos (1961-1991), não poupando nada de si pelo bem daquelas populações. Vértice da sua doação missionária foi sua estadia em Belém do Solimões onde, vivendo com e como os indígenas, era considerado um ponto de referência e um defensor da etnia Ticuna. É obra sua a primeira redação de uma gramática de língua Ticuna, da qual são conservadas diversas cópias em arquivo, muito útil para os missionários que chegaram depois dele naquele lugar. Por causa do seu bom coração e da extrema defesa operada em favor dos Ticuna, teve que retornar à Província, escapando durante a noite de um atentado maquinado por alguns malfeitores locais (da Cidade, tempo de Politica, de eleições municipais). Salvo pela benevolência de quem se beneficiou do seu apostolado, regressou à Província, servindo-a com a dedicação e o bom humor de sempre. Em sua vida religiosa, desempenhou as funções de Pároco em Belém do Solimões e em Tabatinga, e, de volta à Província, desempenhou os serviços de Guardião, Vigário e Vice-Diretor dos Postulantes. Passou serenamente ao Senhor com a idade de 78 anos e 62 de religião. Repousa no cemitério de Piedicolle (Rieti).

Veja a foto do Esboço datilografado da Gramatica Ticuna escrita ao longo de 25 anos pelo Fr. Arsênio:

Vejam outras fotos antigas de Belém do Solimões, do repertório dos Frades Menores Capuchinhos do Amazonas e Roraima: